Rock In Rio - 1º dia (25/05/2012)

Rock In Rio – 1º dia (25/05/2012)

Texto por João Miguel Fernandes / Fotos por Hugo Rodrigues

Mão Morta + Mundo Cão

Os Mão Morta não são uma das melhores bandas portuguesas de sempre ao calhas. Além de terem um dos vocalistas nacionais mais carismáticos de que há memória, o resto da banda não fica nada atrás em talento. Juntamos as letras icónicas e o ambiente criado pela própria banda e temos um espectáculo garantido. Para esta apresentação no Rock in Rio trouxeram alguns convidados, uns surpresa outros nem tanto. Se já se esperava por Pedro Laginha e a sua banda, os Mundo Cão, o mesmo não se podia dizer de Valter Hugo Mãe, o grande escritor.
Sem grandes surpresas, o alinhamento foi positivo. Adolfo, bem ao seu estilo, criou um ambiente meio bizarro no palco, apesar da combinação formal a nível de roupa. Esse ambiente deve-se à forma como Adolfo sente a própria música, como se estivesse a ter múltiplos espasmos.
Em pouco tempo ouviam-se gritos de apoio à banda, que estava a lutar contra uma apatia geral de quem tinha acabado de chegar ao recinto, dois anos depois. Mesmo assim os Mão Morta conseguiram criar energia e passearam-se por temas históricos como “Paris”, “Budapeste” ou “Cão da Morte”. A parceria com os Mundo Cão correu bem e acrescentou alguns momentos únicos, dignos de um bom espectáculo.
Sente-se alguma pena por se colocar uma banda desta dimensão num palco destes. O palco foi demasiado pequeno para o talento dos Mão Morta.
Ramp + Teratron
Mistura manhosa, sem dúvida, mas não era por aí que a coisa não iria correr bem.
Os Ramp, banda de metal histórica em Portugal, iniciaram o seu concerto da melhor forma, com uma energia incrível, captando imediatamente a atenção do público que os seguiu fielmente até à chegada dos Teratron. A partir daí a conversa foi diferente. Assim que estes tomaram realmente conta dos acontecimentos, muitas foram as pessoas que abandonaram o Palco Sunset. Uns chateados, outros frustrados. A verdade é que para os fãs de Ramp a sonoridade dos Teratron não encaixa, e é fácil perceber isso. À primeira música a coisa até parecia pegar, mas depois foi um despegar de gente que até deu pena. Os Ramp tinham tudo para encaixarem um grande concerto, mas esta parceria não lhes foi feliz. Assim que regressaram aos êxitos o público esteve lá para apoia-los, mas misturados com os Teratron o resultado não é famoso. Não que estes tenham culpa, mas este não era o seu público.
Sepultura + Tambours du Bronx
É verdade que Max Cavalera é, para os fãs, a figura dos Sepultura. Mas é também igualmente verdade que Derrick Green está na banda há mais tempo do que Cavalera esteve, e tem feito um grande trabalho!
Os Sepultura são uma banda com enorme peso no panorama musical. Brasileiros de nascença, falam esse português dos nossos irmãos. Acompanhados por outros europeus que não nós, neste caso os franceses dos Tambours du Bronx, deram um concerto forte e coeso, bem ao seu estilo, onde existiram alguns problemas de som, fruto provavelmente da quantidade de barulho vinda do palco.
Com um alinhamento nada virado para os fãs, os Sepultura focaram-se muito na parceria com os franceses. E a verdade é que isso resultou bem. Derrick é um vocalista com raça e muita garra, que acrescenta muito valor a qualquer banda.
O concerto não gerou grande reacção por parte do público, talvez por ter sido demasiado cedo e mais de metade das pessoas estarem ainda a tentar entrar no recinto. Som manhoso à parte, os Sepultura têm uma grande presença de palco, boas músicas e um bom futuro pela frente. Na memória fica esta combinação com os Tambours du Bronx, algo provavelmente impossivel de repetir. Fica também o momento em que Derrick berra “Roots, bloody roots” e essas três palavras geraram um enorme caos. Uma boa prestação dos brasileiros Sepultura.
O Bisonte
Todas as bandas dividem opiniões. Se há uns que consideram O Bisonte uma banda horrível, também há quem a considere a melhor banda do mundo. Exageros postos à parte, os portuenses são muito grandes, musicalmente falando. Inacreditável é a localização do palco dos Vodafone Showcases, a pique praticamente. Apesar de estar localizado junto à entrada, o local não é o mais simpático, nem a importância que dão às bandas, mas ao menos é justo que toquem no intervalo das bandas do Palco Mundo.
Pondo isto à parte, O Bisonte tem uma energia imensa, tocam riffs brutais e têm uma grande presença de palco. O vocalista berra como se quer, o que também é importante. Pouco público para os ver, mas é compreensível tendo em conta que os Mastodon estavam a preparar-se para entrar em palco.
O Bisonte é uma banda de rock à antiga, tocam que se farta e têm tudo o que uma boa banda pode pedir. Espero sinceramente que no 20º aniversário da banda estejamos todos a comemorar algures, de preferência numa sala grande.
Mastodon
Não foi o melhor concerto dos Mastodon em Portugal, mas isso não quer dizer que não tenha sido  bom. Eles são actualmente uma das melhores, se não a melhor, banda de rock/stoner da actualidade. E isso nota-se não só em estúdio mas muito em palco. São uns monstros do rock e deixam sempre um rasto de destruição por onde passam. O único problema que a banda teve foi o som. O Rock in Rio não está em forma para aguentar este tipo de sonoridade e isso notou-se muito durante este concerto. Guitarras pouco estridentes, vozes meio apagadas… Os Mastodon mereciam outro tratamento e assim é difícil apagar o enorme concerto no Coliseu. A setlist não apresentou grandes surpresas: curta, directa e centrada no novo álbum, “The Hunter”. Pode não ser o melhor álbum da banda, mas é uma grande álbum, sem qualquer dúvida. Fica a faltar o “Crack the Skye” e mais coisas do “Leviathan”, mas mesmo assim não foi essemo problema. A banda veio empenhada e com muita energia, mas pareciam um pouco deslocados da luz solar e do público que teimava em demorar a chegar ao recinto.
Momentos altos em “Black Tongue”, “Stargasm” e “Blood and Thunder”.
Os Mastodon deram um dos momentos altos do dia, com o público a aderir fortemente, seguindo cada riff, cada palavra das músicas de uma banda que já é seguida religiosamente por muita gente em Portugal.
Pode não ter sido o melhor concerto deles, mas são os Mastodon e isso é sinónimo de genialidade.
Evanascence
Que dizer de uma banda que parece que ainda está a tocar como se estivessemos em 2000? Que dizer de uma banda que tem uma vocalista que não consegue cantar para fazer a diferença? Que dizer de uma banda que vem a um festival tocar riffs básicos, apoiados numa voz igualmente básica, com alguns rasgões de boa música e outros de desafinanço total?
O problema dos Evanescence não é terem sido criados na época dourada do NU Metal. O problema dos Evanescence foi o de nunca terem conseguido ser realmente originais nem ter o fanatismo e importância que tiveram uns KoRn, Limp Bizkit ou Linkin Park.
Esgotar os êxitos ao inicio não é algo muito inteligente, e nem guardar a “Bring Me To Life” para o fim os salvou. O público aderiu e cantou alegremente, mas os Evanescence não deram um concerto para isso; distorção não chega para fazer bons músicos.
Naquele que foi o concerto mais fraco do palco mundo, demonstraram porque lançaram apenas 3 álbuns em 17 anos de carreira. São fracos e não passam disso.
Metallica
Que dizer do concerto dos Metallica? 42 mil pessoas em delírio para ver uma das maiores bandas do mundo. “Black Album” tocado do inicio ao fim, com tempo para alguns bónus como “One” e “Seek and Destroy”. Os Metallica são reis em  Portugal, há um amor especial entre os seus fãs e a banda, como não há muitos exemplos no nosso país. Estão claramente naquele patamar em que podem vir cá 20 vezes por ano que vão continuar a ter público e é tão justo que seja assim.
O ambiente criado pela banda e pelo público é uma das maiores demonstrações de amor entre artistas e fãs.
Com a abertura do costume, protagonizada pela obra prima de Sergio Leone e a banda sonora incrível de Ennio Morricone, os Metallica entraram a abrir ao som de Ecstasy of Gold, com uma energia inesgotável, de quem parecia nunca ter tocado em Portugal. O público foi levado à loucura e a banda fez por merecer cada aplauso. Correram, saltaram, gritaram, tocaram que nem reis e deram um espectáculo absurdo. Fãs ou não de da banda, há que reconhecer o seu valor e talento. Tocam bem que se farta e têm músicas memoráveis, algumas demasiado longas.
Se “Master of Puppets” foi um dos momentos altos da noite, com todo o parque da bela vista a berrar a plenos pulmões, que dizer do momento em que começaram  tocar o Black Album? Daí para a frente foi um amor incondicional e olhássemos para onde fosse, havia gente por todo o lado a cantar.
E tantas vezes James Hetfield agradeceu a Lisboa e Portugal, aos fãs incondicionais.
É impossivel dizer que os Metallica são uma má banda, ou que não tocam bem, há que reconhecer o peso histórico e o talento da banda, sejamos ou não fãs.
E o concerto teve de tudo, fogo de artificio, pirotecnia, muitas explosões, bolas voadoras, tudo.
A festa foi bem construída e o público respondeu como se os estivesse a ver pela primeira vez. Memorável foi também o momento em que “Nothing else matters” começou a tocar, tal como “Enter Sandman”, fechando assim o ciclo do “Black Album”, esse álbum memorável dos anos 90.
“Seek and Destroy” fechou o dia da melhor forma, elevando os Metallica mais uma vez ao estatuto de imortais e de melhores bandas a actuar ao vivo. Portugal ama os Metallica e eles amam-nos a nós.

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