Super Bock Super Rock 2012: no final, o balanço é positivo

Para quem andou em edições anteriores pelo Meco, este ano o Super Bock Super Rock estava bem irreconhecível. Tendo-se caracterizado anteriormente pelo trânsito caótico e pelo desagradável pó, este ano o cenário mudou completamente: não havia filas, não faltavam clareiras no campismo, respirava-se melhor e andava-se bem melhor. E por muitas mudanças que a organização tenha feito, como a plantação de relva em frente ao palco principal (que pouco durou), o responsável pelo indubitável melhor ambiente do Meco foi um cartaz claramente mais fraco e muito pouco coeso que trouxe apenas 18 mil festivaleiros no primeiro dia, 21 mil no segundo, e 26 mil no terceiro (dados da organização), face aos mais de 50 mil que o ano passado estavam apenas instalados no campismo.

Ainda assim, embora com uma mínima coesão de estilo musical, o cartaz do 18º Super Bock Super Rock ainda conseguiu trazer a Portugal bons nomes que deram excelentes concertos, e algumas já ansiadas estreias. Embora com menor afluência, e um menor espírito festivaleiro, o SBSR 2012 teve os seus momentos memoráveis que fizeram valer a pena a deslocação até à Herdade do Cabeço da Flauta.

O primeiro dia foi, sem qualquer dúvida, o mais fraco. Embora nomes sonantes como Bloc Party ou Incubus tenham subido ao palco, faltou-lhes emoção que soubesse cativar o público, dando concertos medianos em que não se podem apontar grandes falhas, mas careceram de momentos memoráveis e surpreendentes. Bat for Lashes estreou-se por cá neste dia, embora tenha sido um pouco esquecível, num dia em que claramente os melhores concertos foram das bandas portuguesas. Os Salto cumpriram a missão de animar o público, e os Capitão Fausto idem, com toda a sua energia jovem. Já os The Happy Mess, no Palco EDP, deram um concerto competente para a arrancada do palco secundário, mostrando uma vez mais todo o seu potencial.

Mas se o primeiro dia deixou os festivaleiros desiludidos, um segundo dia em grande conseguiu animar o recinto, repleto de momentos memoráveis. Lana del Rey apresentou-se simpática e belíssima no Palco Super Bock, espalhando amor pela multidão na sua atitude sempre dramática de diva pop, cantando todos os grandes êxitos do mediático álbum de estreia. Oh Land, menos conhecida mas não menos talentosa, conseguiu do outro lado do recinto dar um dos concertos do festival, e com a sua simpatia enérgica e adorável conduziu uma multidão muito bem composta numa dança constante. Friendly Fires dispensam apresentação, e fizeram a festa do costume, para sempre gravada nas melhores memórias de cada vez que nos visitam, mas foi M.I.A. que rebentou com esta segunda noite, num espectáculo que não deixou ninguém indiferente: seja pela produção dos fardos de palha à explosão de cor das fitas penduradas, aos berros ensurdecedores, seja pela energia da cantora britânica com origens no Sri Lanka, ou pelo dançarino ruivo com fatos extravagantes, que com a sua dança irrequieta e fascinante quase ofuscou tudo o referido anteriormente – o que é claramente difícil. Não podemos também esquecer a qualidade do talento português que pudemos presenciar neste dia: os Supernada cativaram e emocionaram fãs e curiosos, e os Wraygunn partiram tudo no Palco EDP, com um Paulo Furtado cheio de amor para dar e muita boa música para se fazer ouvir, sendo o primeiro crowdsurfer deste festival.

O último dia não poderia ter acabado da melhor maneira. Bebe aqueceu os festivaleiros, claramente em maior quantidade que nos restantes dias, mas foi Aloe Blacc que mais surpreendeu os presentes com um concerto extraordinariamente bom, de um homem que respira musicalidade e ritmo, além de muita simpatia. Cantámos com ele, dançámos com ele, “aproveitámos a vida e celebrámos a música”, com os corações no ar como nos pediu desde o início até ao derradeiro final com “I Need a Dollar”. Peter Gabriel fez jus a todo o seu grande nome, atraindo um público consideravelmente mais velho, mas dando um concerto que também agradou aos mais novos, revisitando todos os seus grandes clássicos e surpreendendo-nos com um dueto com Regina Spektor, em “Here Comes the Flood”. Ainda assim, a rainha desta noite foi sem dúvida a soberba Annie Clark, mais conhecida por St. Vincent, que com a sua voz doce e adorável aliada a umas fortes guitarradas, cantou e encantou com “Cheerleader”, “Cruel” ou “Surgeon”, e se soltou completamente em “Krokodil” com um irreverente crowdsurfing, que ficou como um dos momentos deste Super Bock Super Rock. Sem qualquer dúvida espantosa, mostrando do que é feita e como respira o Rock. Mas a noite não tinha acabado… The Shins encerraram o palco principal com um concerto competente, embora houve quem ficasse dividido entre ver os americanos ou a adorável russa Regina Spektor, que nos deliciou no Palco EDP – para quem já gostava dela, este sábado saiu de lá apaixonado! Para os mais enérgicos, a festa encerrou com Skrillex, e estava dado por terminado mais um ano de SBSR – e apesar das críticas ao cartaz, ou da muitor menor afluência de público, o ambiente melhorou bastante e as condições também. Quem presenciou estes três dias de Super Música, sem dúvida regressou a casa com um sorriso nos lábios, e nenhum arrependimento do dinheiro gasto num cartaz que de “menor”, afinal não tinha nada.

Texto e Fotografia por Mariana Coimbra

Arte-Factos

Webzine portuguesa de divulgação cultural. Notícias, música, cinema, reportagens e críticas. O melhor da cultura num só lugar.

Facebook Twitter LinkedIn Google+ YouTube