
Flashback: The Royal Tenenbaums
Parental Advisory: Jamais serei isenta ao escrever sobre qualquer um dos filmes de Wes Anderson. É dos meus realizadores preferidos, de casamento cinéfilo perfeito com o music supervisor Randall Poster, tornando a música, por si mesma, uma personagem principal em cada filme. Cada texto será, portanto, uma ode às personagens, sempre cuidadosamente seleccionadas com papéis escritos à medida, à estética e ao ambiente tão próprio de Wes Anderson. Não aconselhável a não gostadores da seita.
Datado de 2001, The Royal Tenenbaums é o filme que traz Wes Anderson à ribalta, depois de uns discretos Bottle Rocket (não disponível em Portugal e em DVD só para Macs) e Rushmore, este filme surge como a revelação de um realizador que se revelaria genial, com efeitos retroactivos.
Nomeado para uma grande quantidade de prémios, este filme destaca-se pela qualidade infinita do elenco que representa uma família absolutamente disfuncional (e qual não será?).
Gene Hackman como Royal Tenenbaum, o pai ausente, displicente, que nem sabe bem o nome dos filhos e vende a própria mãe se for preciso para atingir os seus objectivos pessoais, com o sempre cúmplice e fiel empregado Pagoda (Kumar Pallana).
A Mãe, Angelica Houston, Etheline, capaz, bem sucedida, sensual e sensível que encontra a felicidade depois dos 50 com Danny Glover, Harry Sherman, o contabilista da família. Um chato, portanto.
E os filhos. Deliciosamente desequilibrados, com as mazelas de um pai ausente e demasiado sincero nas suas preferências filiais, uma mãe workaholic e relações fraternais muito pouco politicamente correctas.
Chas (Ben Stiller), paranóico da segurança e da vigilância, depois de ter perdido a mulher, perde-se em simulações diárias de perigos vários para proteger os filhos, esquecendo-se da infância deles.
Margot (Gwyneth Paltrow) numa brilhante artista amargurada, com um dedo de pau, amargurada com o mundo, casada com Raleigh St. Clair (Bill Murray) sabe-se lá porquê, amante de Eli Cash (Owen Wilson) o Tenenbaum wannabe, sabe-se lá porquê, mulher de poucas palavras e lembrada, repetidamente por Royal, da sua condição de “adoptada”.
E Richie (Luke Wilson), outrora lenda do ténis, apaixonado desde infância por Margot, melhor amigo de uma águia, a sua confidente.
Está descrito o elenco e as características que dão a este filme a mistura do nonsense, com algum drama hipotético (que nunca o chega a ser), com as relações pouco usuais, as personagens estranhas com comportamentos indecifráveis e indecifrados, um percurso ao longo do filme que é feito ao momento e pelo momento, sempre com bandas sonoras absolutamente irrepreensíveis, os figurinos sempre caricaturados e uma imagem de marca de Wes Anderson que procura os mesmos actores e actrizes, de filme para filme enquanto a sua imaginação vagueia pela grande tela.
Mais um de muitos geniais assinados por Wes Anderson que transforma Ben Stiller e Owen Wilson em verdadeiros actores e aposta nas melhores características dos seus restantes habitués. Filme que se vê uma, e outra e outra vez sem nunca perder a simplicidade e a piada tão particular de um humor semi-negro em torno dos traumas e desconstruções que moldam o ser humano e o tornam tão único e irrepetível.
Texto de Lúcia Gomes
Adoro este filme. A cena do suícidio é perfeita! E Bottle Rocket e Rushmore só foram discretos na distrubuição, porque não deixarem indiferentes a quem os viu. Pelo menos a mim não deixaram. 🙂
verdade verdade verdade