
Motelx 2013 (balanço)
O Motelx encerrou a sua edição no passado domingo, dia 15 de Setembro, premiando a curta portuguesa O Coveiro de André Gil Mata. A história do filho do coveiro da terra, cuja mãe morre à nascença, ficando este condenado às paredes do cemitério, proibido de sair pelo seu pai. Monstro disforme, acaba por matar o pai e ali se desenrola a história, narrada por Adolfo Luxúria Canibal (sempre o Adolfo Luxúria Canibal…), de personagens estranhas e macabras que se cruzam pelas campas do coveiro, num ambiente em tudo semelhante a Vincent, de Tim Burton.
A programação do festival, contando com uma panóplia de temas, contou também com uma panóplia de géneros cinematográficos que deixam sérias dúvidas quanto à adequação da sua inclusão numa programação de um Festival de Terror.
Começando com Neil Jordan, já mestre da arte, apresenta-nos um filme – Byzantium – que fala de umas criaturas híbridas que, não sendo vampiros, se alimentam de sangue humano, contudo, escolhem as vítimas com alguma moralidade. Imortais, as mulheres não podem pertencer à Ordem destes seres e são por eles perseguidas. Um filme com Saoirse Ronan e Gemma Arterton, está longe do terror de Interview with the Vampire ou do satírico The Company of Wolves.
Também Girls against Boys de Austin Chick, com Nicole LaLiberte e Danielle Panabaker, deixou muito a desejar enquanto terrorífico. Um thriller, com muito pouco sangue, que conta a vendetta feminista de quem odeia os homens e de quem foi deixada e maltratada por eles. Duas raparigas que se juntam por um acaso e partem na odisseia da vingança, ao som de Hurdy Gurdy man, mas com pouco (muito pouco) sangue e entranhas pelo ar.
Já The ABC’s of Death é uma impressionante junção de 26 realizadores que contam, em cerca de 2/3 minutos, uma forma de morrer, seguindo as letras do alfabeto. Desde lutas de cães, a gases humanos (sim, esses), facas e frigideiras, tiros acidentais, tudo vale num filme repleto de sangue, terror e humor negro. Não poderia ser melhor.
Destaque para o primeiro dia do festival e para a curta The Body, de Paul Davis com Alfie Allen (conhecido pela sua participação na série Game of Thrones onde interpreta Theon Greyjoy), a história de um assassino que arrasta um corpo no dia de Halloween sem que ninguém ache estranho, havendo mesmo quem participe na suposta farsa.
Também We are what we are merece uma menção especial. A história de uma família diferente, que vive assolada por um segredo macabro. Depois da morte da mãe, as filhas tentam libertar-se da vida que levam, sempre forçadas pelo pai, acabando por culminar numa aceitação do que são para conseguirem deixar de o ser. Se o farão, ficou por saber. Um filme extraordinário de Jim Mickle, com Odeya Rush e Ambyr Childers, num remake de um filme já passado na edição Motelx em 2011, Somos lo que hay, de Jorhe Michel Grau. A ver.
Uma edição repleta de gente e que, contudo, revelou uma programação que deixou um pouco a desejar na selecção dos géneros, ao mesmo tempo que brilhou com pérolas do suspense e do terror de hoje e de sempre.
Texto de Lúcia Gomes