
Dead Combo no Coliseu Lisboa (21/03/2014)
Texto por Andreia Vieira da Silva / Fotos por Hugo Rodrigues
Depois de A Bunch of Meninos ter entrado directamente para a primeira posição do Top Nacional de discos mais vendidos, na semana em que foi lançado, surge um concerto no Coliseu dos Recreios num formato diferente do habitual. A Bunch of Meninos Tour contempla alguns pontos do país e ontem foi a noite de Lisboa. Os Dead Combo decidiram colocar o público ao seu nível e mais perto deles. Desta feita, a plateia ergue-se dentro do próprio palco, num espaço com uma capacidade para um número bastante menor de pessoas relativamente ao habitual naquela sala, dando um toque mais intimista e misterioso à actuação.
O palco era rico em pormenores: quadros de diferentes dimensões com fotografias antigas harmoniosamente conjugados, um armário transformado em espécie de altar com os mais variados objectos, desde uma caveira alusiva ao Dia de Los Muertos, flores, um Santo António, e ornamentado com luzes que a certa altura começam a piscar. Na cortina negra que nos tirava a visão para o lado do Coliseu onde usualmente costumamos estar, diferentes filmes eram projectos no decorrer do alinhamento.
Pelas 21h a sala já parecia sufocante, com todos os lugares sentados preenchidos e muitas pessoas em pé, outras sentadas no chão ou onde calhasse. Dando início ao serão de uma sexta-feira chuvosa, o concerto começa com três faixas do registo mais recente da banda, com “Povo que Cais Descalço”, onde se sente um entrosamento do fado, com espírito de Amália, “Waiting for Nick at Rick’s Café” e “Miúdas e Motas”, o “sonho de qualquer adolescente”.
Desde a densa “Mr. Eastwood” que nos transporta para um bar perdido numa estrada do Texas, até à calmaria das duas canções que ambos dedicaram às filhas, “Zoe Llorando” e “Welcome Simone”, foram 21 faixas que percorreram todos os discos da banda, formada em 2001, após um encontro aleatório de Trips e Gonçalves na subida até ao Bairro Alto.
As pausas entre canções servem de introdutória à canção seguinte, com uma breve história sobre a mesma. “Rumbero” é a faixa em que sabemos que temos que experimentar o rum d’A Brasileira, mas que “é tão bom, que só o servem a turistas”. Seguidamente “Lusitânia Boys”, a canção que empresta nome ao álbum que os lançou para o reconhecimento de um público mais alargado, conta a história de “músicos que foram beber uns copos ao Cais do Sodré, mas ao antigo, e acabaram à porrada com marinheiros”, e o foco de luz está agora no contrabaixo de Pedro Gonçalves.
“Dona Emília”, faz referência a uma senhora, ícone do Bairro Alto, que os atura nos ensaios na ZdB e “põe toda a gente em sentido”, diz Tó Trips (no final esta presenteia-os com um ramo de flores). Em “Eléctrica Cadente”, a canção feita especialmente para um filme de Edgar Pêra, e pertencente ao álbum pioneiro do grupo, Vol. 1 de 2004, a cortina negra subiu e o momento foi único. Como que uma homenagem ao Coliseu dos Recreios, como se agora o pudéssemos admirar, mas de uma perspectiva concedida a poucos e raramente ao público. Era palpitante a sensação de pertencer a um palco, de sentir o fulgurar do que é entrar nele, de ser o centro do espectáculo.
O duo é notável pela mistura de influências que conjuga na perfeição: não sabemos se é um western ou um filme de Tarantino, se é rock ‘n roll ou fado, ou se estamos num restaurante mexicano, mas sabemos que tem muitos e bons ingredientes. Dead Combo são o exemplo de como há bons projectos em Portugal e da magia que apenas duas pessoas são capazes de produzir musicalmente. Um concerto para ser bom não precisa de ser “grande”, de ter efeitos de luz estonteantes, de ter fogo de artifício, e de “encher o olho”. Só precisa disto, garra, competência e paixão. E é claro que o bom humor de Tó Trips e a sua projecção de voz à Tom Waits, tornou a coisa ainda mais likeable. No final, Pedro Gonçalves confessou estar emocionado e embarcou numa lista de agradecimentos a todos os que têm acompanhado e ajudado a fazer o que os Dead Combo são hoje, o que lhe valeu uma onda de aplausos. A 4 de Dezembro há mais, e connosco do outro lado do Coliseu novamente.
[…] Recordamos que a banda partilhou recentemente o palco do Coliseu dos Recreios com o público, num concerto diferente, intimista e esgotado, onde apresentou o seu novo álbum “A Bunch Of Meninos” (reportagem aqui). […]