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Texto por Andreia Vieira da Silva

Sem possuírem uma ligação de sangue, ao contrário do que se possa pensar, Norberto e João Lobo juntam-se novamente numa união umbilical dando continuidade a uma parceria composta de improvisação e liberdade musical. Em 2012, Mogul de Jade edificou-se nesta mesma sala e em 2014 provam que o anterior registo terá uma sequela. Apoiados por um sexteto de outros músicos, nesta noite gelada, pudemos assistir ao nascimento de Oba Loba, um ser estranho que se entranhou aos poucos.

Com um início vago e carregado de onomatopeias, é difícil dizer que este concerto seguiu uma linha recta, pois foram várias as direcções em que fomos disparados. Há um piano, um clarinete, um violino, um trompete, uma guitarra acústica e outra eléctrica, um baixo e uma bateria com uma personalidade própria e discordante entre si. A variedade musical faz-nos lembrar tanto uns Pink Floyd, como uns experimentais Faust. Nada aqui tende a ser óbvio, tudo muda de sítio rapidamente.

As paisagens são imensas e cada faixa é carregada de um experimentalismo extremo. Cada canção nasce de forma atribulada, encontra a sua plenitude harmoniosa e seguidamente morre de forma agressiva. Há uma desconstrução da composição musical e espasmos sonoros arrepiantes. O compromisso não existe para dar lugar a uma liberdade intrínseca na exploração que cada músico impõe na sua tarefa em palco. A voz de Lynn Cassiers embala-nos de quando a quando. Imperou a desestruturação e a altivez de melodias que acabavam por endoidecer e anular-se gradualmente. Por vezes, o que sobrava era uma parede de som. O concerto termina em apoteose, com a junção de outros dois saxofonistas.

Fica um sabor de algo que é difícil de digerir, e se Mogul de Jade já enveredava por um leque de culturas, Oba Loba promete ser ainda mais diversificado e imune a rótulos.

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