
Top 10 de 2014: Cinema
Na época de balanços, deixamo-vos aqui as nossas escolhas cinematográficas (só foram elegíveis filmes estreados comercialmente este ano em Portugal), Num profundo ecletismo, as listas individuais incluiram também os seguintes filmes: Alentejo Alentejo, Borgman, Cavalo Dinheiro, Ciclo Interrompido, O Desaparecimento de Eleanor Rigby, Dois Dias Uma Noite, O Duplo, Filomena, Frank, Gloria, O Homem Duplicado, Ida, Interstellar, A Lancheira, Lego, Mapa para as Estrelas, Nebraska, Obediência, Omar, Salão de Jimmy, Tom na Quinta, Viva a Liberdade. Mas este foi o nosso top-10:
10. O Clube de Dallas (Dallas Buyers Club)
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=0RvAVS7JiZA]
A prestação de Matthew McConaughey mereceu-lhe um Óscar, na mais recente edição dos prémios da Academia. É irrefutável que no papel de Ron Woodroof – personagem verídica – encerra em si toda a energia do filme.
Entregue à morte certa, num tempo em que o vírus da SIDA é desconhecido, rápido e letal, Woodroof não se resigna. Sem acesso a medicação adequada em território norte-americano, atravessa as fronteiras em busca de alternativas viáveis, num acto de sobrevivência e altruísmo. IL
9. Jovem e Bela (Jeune et Jolie)
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=ofnqcykZj8M]
Jeune et Jolie é quase um Shame francês e em formato feminino. E, por mais ténue que seja este “quase”, é um valente elogio. Um exercício inteligente, catártico, provocador e sensível sobre a descoberta da sexualidade. Uma obra de pormenores, guiada pelas quatro estações de ano e pela música de François Hardy. Podia ter um final deliciosamente em aberto, mas prefere uma referência peculiar à memória e à saudade. E, depois de Dans La Maison, é a confirmação de Ozon como um dos mais brilhantes realizadores realistas da actualidade. JT
8. E Agora? Lembra-me
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=7fWzpXJd4Vw]
Com uma longa lista de prémios no currículo, o filme de Joaquim Pinto e Nuno Leonel é um filme especial. Tecnicamente perfeito e com uma abordagem íntima e desmascarada ao seu tema central, deveria até inventar-se um novo género para E agora? Lembra-me: Mais do que um ensaio, mais do que um documentário, mais do que um caderno de apontamentos, E agora? Lembra-me é uma sinfonia visual e poética que reflecte sobre o milagre do amor e das coisas pequenas da vida, e a forma como estes superam desafios, dificuldades, a doença e a própria morte. EQ
6. Grand Budapest Hotel
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=MGE_UnWv43I]
O filme a escolher para a tarde de cinema em família desta época natalícia.
Com um hotel luxuoso como pano de fundo, numa exótica montanha coberta de neve e neblina, assistimos a uma sequência de façanhas protagonizadas por Ralph Fiennes – um garboso concierge – e pelo seu jovem aprendiz, num tempo em que a guerra ameaça o sereno quotidiano. Tudo pela honra e pelo amor. IL
6. O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street)
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=OI_gbQPjYBE]
Que Dicaprio é um actor extraordinário, já ninguém duvida. Mas no papel de Jordan Belfort, ultrapassa o expectável. Esta é a narrativa de um caso real numa sátira sem dó nem piedade ao capitalismo e ganância bolsistas, ao exagero do poder, à riqueza levada ao extremo, onde se perde a noção do socialmente aceitável, como não usar anões num tiro ao alvo. E, no fim, não há moralismos. Elenco perfeito num filme genial. LG
5. A Imagem Que Falta (L’Image Manquante)
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=F_VmBQSdkJ4]
Parte da experiência de Rithy Panh, o realizador, nos campos “de reeducação da população em camponeses revolucionários”, do partido de inspiração comunista, Khmer Vermelho, no Camboja. Um filme para pensar a história mais vasta de um país, de uma ideologia e a responsabilidade do próprio cinema em dar a ver e não permitir esquecer as atrocidades humanas. SC
4. Her
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=a7psv01LXEM]
Her é um exercício realista de ficção científica. É um objecto futurista, mas perfeitamente enquadrado no nosso tempo. Uma história actualíssima num mundo em que as relações humanas se dispersam, se tornam cada vez mais digitais e menos concretas. Um primor audiovisual, uma interpretação estrondosa de Joaquin Phoenix (e da voz de Scarlett Johansson) e um elegia original e lindíssima sobre o amor, seja de natureza física ou espiritual. JT
3. A Grande Beleza (La Grande Bellezza)
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=JIUX2s9PtOU]
La Grande Bellezza, de Paolo Sorrentino, é uma obra pautada por excessos: estéticos, narrativos e por aí adiante. Uma comédia dramática sob a forma de crítica satírica, de cunho existencialista, a uma sociedade burguesa e intelectual submersa, a todos os níveis, num universo de festas, aparências e frivolidades, devaneios físicos e emocionais. La Grande Bellezza possui um virtuosismo quase homérico na realização, apresentando algumas sequências merecedoras de antologia e da transposição da tal “grande beleza” como algo metafísico e grandioso mas, ao mesmo tempo, simples e acessível, embora efémero, tal como a vida real. PL
2. 12 Anos Escravo (12 Years a Slave)
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=85ha_mAp8qw]
Revestido por uma capa de produção digna do “Olimpo Hollydiano” (o que pode afugentar ou despertar o seu interesse), Steve McQueen joga com os arquétipos do cinema convencional de forma notável, nomeadamente na temática utilizada, fazendo um exercício de realização inteligente e subversivo. O seu intento, ao jogar com as emoções, não parece ser, de modo algum, despertar somente emoções ou fazer do espectador um observador privilegiado ou contemplativo, envolto numa espécie de concha aconchegante. Ao invés, pretenderá simplesmente confrontá-lo com uma história brutalmente real que grita à consciência, não permitindo escapatória ou tentativa de alienação. PL
1. Um Quente Agosto (August Osage County)
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=kkjhw-1IH0s]
Talvez o filme mais improvável do ano e, ao mesmo tempo, o mais arrebatador. Quase tudo se passa em torno de uma mesa. Meryl Streep, Julia Roberts, Juliette Lewis, Benedict Cumberbacht e uma mão cheia de actores e actrizes contam a história de uma família disfuncional (e qual não é?). “Tios” que aliciam sobrinhas, filhos que amam e odeiam os pais, um pai que se suicida por não aguentar mais a mulher, o peso de se carregar, sempre e acima de tudo, o sangue. Quando o mundo gira e a nossa história pára, consecutivamente, no sítio de onde jamais se sairá. Um drama das entranhas onde tantos se revêem nos diálogos em torno de uma mesa, presos no ADN que não nos deixa sair dali. LG
Escolhas e textos de Edite Queiroz (EQ), Isabel Leirós (IL), João Torgal (JT), Lúcia Gomes (LG), Luís Sá (LS), Paulo Lopes (PL) e Salomé Coelho (SC)