Amplifest – 2º dia (20/09/2015)

Amplifest – 2º dia (20/09/2015)

#36 Amenra

Texto por Carlos Vieira Pinto e Cláudia Filipe
Fotos por Ricardo Almeida

No segundo dia do fim-de-semana Amplifest esteve presente ∆TILLL∆, o jovem músico do Porto, que entrevistamos recentemente acerca do seu disco V. Se no primeiro dia a presença portuguesa tinha ficado a cargo de Filho da Mãe, podemos dizer que no segundo essa responsabilidade ficou entregue a um “filho do festival”. ∆TILLL∆ encaixa que nem uma luva no espírito Amplifest, incorporando batidas electrónicas no peso do drone mais metálico e, este concerto, foi substancialmente diferente das várias actuações do músico a que já tínhamos assistido. Desta vez sozinho no palco, sem recorrer a um baterista e com um set claramente mais electrónico, em crescendo e que coloca o músico entre nomes como Andy Stott ou The Bug, em territórios com coordenadas dub e techno. Mais uma vez apoiado em excelentes visuais, o concerto não defraudou ninguém e mostrou-se uma boa surpresa para o público internacional presente.

Na rubrica do segundo dia de Nós Somos a Tempestade tivemos oportunidade de ouvir Luiz Mazetto entrevistar Mathieu Vandekerckhove. Conversaram sobre Amenra e a intensidade das suas projecções que, inclusivamente, puseram os Neurosis em sentido, e foi um agradável momento de descontracção antes do próprio Mathieu pegar na guitarra e se apresentar como Syndrome.

#8 Syndrome

Antes do anoitecer a sala 2 recebeu aquele que foi, provavelmente, o concerto mais intimista desta edição. Syndrome, projecto a solo de Mathieu Vandekerckhove, membro fundador de Amenra, foi o catalisador do momento mais bonito do dia, acompanhado apenas pela sua guitarra e pelas imagens mais belas de todo o festival. Uma viagem sonora que começou com tons claros de post-rock e que se foi adensando até um drone final. Poucos devem ter reparado, mas no preciso momento em que a distorção se apoderou dos amplificadores de Syndrome, o público (que tinha estado sentado) começou a andar até ao palco. Uma peregrinação de dezenas de pessoas acompanhadas pelo peso da guitarra, uma imagem apocalíptica. Uma epifania.

Ao mesmo tempo, “Meet Filipe and Follow the Book” decorria novamente no hall. Um dos membros de HHY & The Macumbas, o Filipe, convidou todos os presentes a segui-lo para fora do Hard Club para escutarmos um conto. Porque o Amplifest é muito mais do que um festival de música, é importante que este tipo de actividades paralelas continuem a ser reconhecidas e repetidas. Uma lufada de ar fresco quando os ouvidos também precisam de algum descanso.

Um dos concertos mais pesados do fim-de-semana foi o dos Wiegedood. Os adereços em palco, o logotipo e a quantidade de amplificadores não deixava margem para dúvida: vinha aí um concerto para duros. A banda formada por membros de Oathbreaker, Rise and Fall e Amenra encheu a sala 2 com uma descarga intensa de black metal, que remeteu para o universo de bandas como Wolves in the Throne Room. O público não descolou e a impossibilidade de fechar as portas dado o amontoar de pessoas na sala mais pequena do Hard Club fez com que se ouvisse a léguas de distância.

#27 Stephen O’Malley

E finalmente SOMA, ou Stephen O’Malley, figura incontornável do drone mais pesado, membro fundador de vários projectos de enorme relevância e com maior visibilidade em Sunn O))). Stephen O’Malley é um tipo simpático, que andou pelo festival durante os dois dias a distribuir sorrisos e disposto a conversar com qualquer um, mas quando entramos na sala de espectáculos, transformada no seu mundo perverso, sabemos imediatamente ao que vamos. Quatro enormes amplificadores decoram o palco e são a personagem principal do guião escrito pelas seis cordas da sua Travis Bean. Aqueles que tinham estado na Amplitalk do dia anterior ouviram O’Malley declarar a sua enorme admiração por Miles Davis e ao experienciar a performance do músico é-nos impossível não pensar que estamos perante alguém que explora, de forma muito própria, o seu jazz. O seu free jazz.

Seguiram-se os Amenra a serem Amenra. Corre o rumor de que vão parar por uns tempos e que este pode ter sido um dos últimos concertos da banda. Mas como o bom filho à casa torna, os Amenra voltaram a hipnotizar o Hard Club. Pela terceira vez. Não há muito a dizer sobre um concerto assim: um ritual cheio de alma por parte de uma banda que dá tudo o que tem e que nos apanha de surpresa, mesmo que já os tenhamos visto antes. Campeões das projecções (não há de o Scott Kelly ter inveja), em sintonia perfeita com a descarga sonora da fusão entre o post metal e o sludge. Colin van Eeckhout leva o concerto quase todo de costas para o público, com a sua impiedosa tatuagem à vista. Tantas condicionantes que tornam uma performance de Amenra num momento perturbador e inquietante, daqueles que causam um desconforto profundo e abrem feridas. Esperemos que o fim não seja definitivo numa altura em que bandas como esta fazem falta: com a quantidade de concertos a que assistimos, começa a escassear o factor surpresa e motivos para permanecermos numa sala do início ao fim do espectáculo.

#33 Amenra

A punição dos Amenra continuou e foi levada a níveis extremos por Mories e o seu projecto Gnaw Their Tongues. O black metal selvagem, cinemático e absolutamente doentio assolou todos os que assistiram àquele que foi, provavelmente, o concerto mais extremo de todas as edições do Amplifest.

Terminado o segundo dia, saímos com a sensação que o Amplifest se torna cada vez mais uma experiência, enriquecida por uma selecção de projectos cada vez mais eclética e por um público à imagem da Amplificasom. Sério, curioso e sedento de novas experiências.

Quinta edição. Quinto sucesso. É caso para citar Zeca Afonso e o seu “venham mais cinco”.

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