
Spectre, por David Bernardino
Daniel Craig nunca foi actor consensual para interpretar Bond, James Bond, afastando-se do modelo de charmoso britânico com sentido de humor para adoptar um durão com problemas de personalidade. A personagem reinventou-se, o que não é mau, quando nos deu grandes filmes como Casino Royale ou Skyfall. Infelizmente, em Spectre, parece que tudo correu mal. Sam Mendes, o mesmo realizador de Skyfall, é inexplicavelmente desleixado na direcção do filme, que além de um trabalho de câmara fraco, apresenta os mais banais diálogos, uma profundidade narrativa inexistente e sobretudo performances interpretativas que estão mais preocupadas em “despachar” o mais que anunciado último 007 com Daniel Craig. Se Daniel Craig já havia afirmado publicamente que preferia cortar os pulsos a ter que interpretar novamente James Bond, então essa sua convicção está bem espelhada ao longo das sofríveis duas horas e meia de filme. O actor não se esforça minimamente para dar credibilidade à sua personagem que na verdade pouco pode fazer com um script tão fraco.
Spectre não passa de uma sequência de cenas apressadas, pouco credíveis e que não conseguem fazer o espectador importar-se. Christoph Waltz interpreta o principal vilão (supostamente o mais mau de todos até agora) para chegando a hora da verdade ter direito a uns 10 ou 15 minutos de uma presença que não meteria medo a um rato, e o que dói é ver que o enredo tenta dar algum sentido filosófico a todo o mal que acontece à volta de Bond, apenas para ver essa tentativa despenhar-se em chamas como os vários helicópteros em que os muitos milhões de orçamento foram investidos. Pior, cria uma sub-trama política protagonizada em paralelo por Ralph Fiennes tão desinteressante e inconsequente que faz qualquer Missão Impossível parecer um 2001: Odisseia no Espaço. E o que dizer de uma viúva Monica Belluci que apenas precisa de 3 ou 4 minutos de écrã para tirar a roupa e se envolver com Daniel Craig, qualquer que seja o motivo? Tantas e tantas ideias mal executadas e forçadas pela goela do espectador. É uma pena. Spectre tem uma ou duas cenas boas (não muito boas e muito menos excelentes). A genuinidade do diálogo entre Bond e o ratinho, por exemplo, parece pertencer a outro filme, tal como a primeira aparição do vilão, que na verdade é um copy paste de Eyes Wide Shut de Kubrick. E em qualidade é pouco mais que isso. Em Spectre, James Bond não é um agente secreto sedutor, mas antes um arruaceiro alcoólico invencível que poderia caber noutro qualquer filme de acção genérico. Desastroso. Depois do soberbo Skyfall, este James Bond sai pela porta pequena.