Kurt Vile & The Violators no Armazém F (24/11/2015)

Kurt Vile & The Violators no Armazém F (24/11/2015)

©João Miranda

©João Miranda

Kurt Vile regressou finalmente a Portugal depois de largos de meses de espera. A memória da sua passagem anterior pelo Festival Paredes de Coura estava já esbatida pelo tempo e desactualizada por um novo álbum, entretanto já incluído em diversas listas de balanço do ano de 2015. b’lieve i’m goin down é um registo mais introspectivo e de sonoridades menos sujas, reflexo de uma alma agora purificada e de ânimo renovado, mas sem o mesmo impacto que o disco anterior, Wakin on a Pretty Daze. Na noite em que Kurt e os seus Violators aterraram em Lisboa, convidaram-nos a entrar no seu mundo. Kurt manteve-se pouco comunicativo entre músicas, como é habitual, preferindo deixar-se conhecer pela sua lírica embalada pela guitarra.

O concerto arrancou com “Dust Bunnies”, ou “cotão” como dizemos em Portugal, e “I’m An Outlaw”, lufadas de ar fresco na sua composição e que marcaram um alegre começo de noite. Munindo-se de banjo, Kurt materializa os resquícios de Tom Petty e Neil Young, nomes maiores do folk norte-americano que o influenciam. “Pretty Pimpin’” viria a marcar o primeiro grande momento de exaltação do público, faixa de abertura do álbum deste ano, compassado story-telling sobre o quotidiano fora dos palcos, na sua Filadélfia a que regressou depois desta passagem por Lisboa, última data da tour que durou dois meses. Aliás, o novo álbum ocupou o primeiro acto do concerto, a que se seguiu um desfile dos temas mais queridos de Kurt.

©João Miranda

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“KV Crimes” – “Krimes” como lhe chama na setlist rabiscada – e “Wakin on a Pretty Day” marcam este arranque de segunda parte, com o público a acompanhar na perfeição. O álbum “Wakin on a Pretty Daze” valeu a Kurt Vile & The Violators a chegada a um público mais alargado, daí esta reacção imediata a temas retirados do registo. Quanto a “KV Crimes” vale sempre a pena referir que tem um dos meus vídeos favoritos (espreitem aqui), um Kurt entronado e em desfile pela cidade, vídeo cujo lançamento coincidiu com o anúncio de que o dia 28 de Agosto passaria a ser Kurt Vile Day na sua cidade-natal e que seria agraciado com o Liberty Bell Award, reconhecimento atribuído pela sua contribuição cultural e generosidade, afirmou o Mayor de Filadélfia em 2013.

Os impetuosos “Jesus Fever” (2011, Smoke Ring for My Halo) e “Freak Train” (2009, Childish Prodigy) não perdoam em disco e muito menos ao vivo, e o público vibrou com a agitação do palco e ditaram um apoteótico fim de concerto. Vamos fazer de conta que o encore era uma surpresa e que ninguém contava com o reaccionário “Puppet to the Man” nem tão pouco com a doçura contrastante de “Baby’s Arms”.

A noite em palco terminava neste tom de aconchego, que viria a transformar-se minutos depois em abraço de carne e osso. Kurt Vile & The Violators regressaram para arrumar os cabos e afins, e perderam-se nos sorrisos e elogios dos fãs portugueses. Sentado em palco olhou e escutou todos os que o esperavam, tirou fotografias e exibiu o sorriso, e deixou a promessa: regressam a nós na primavera (ou será no Primavera?). Bem, seja quando for, não pode falhar o malhão “Life Like This”, grande ausência do alinhamento do concerto.