Destaques do primeiro trimestre 2016

Durante este mês de Abril, e em retrospectiva, fizemos um apanhado do que mais rodou por aqui no primeiro trimestre de 2016. Do mui antecipado regresso dos Massive Attack ao segundo disco das Savages, passando por uma banda sonora assinada por Clark e Villa Soledade dos nossos Sensible Soccers, fiquem com algumas sugestões da nossa equipa.

VeraBrito

Savages – Adore Life

Não seria à partida fácil para as Savages apresentar um segundo álbum do mesmo calibre que foi o manifesto de Silence Yourself, mas a verdade é que conseguiram. A temática mudou, Adore Life explora os caminhos do amor, de uma maneira por vezes tortuosa é certo, mas bem directa e na cara. A ferocidade, essa manteve-se igual e mesmo que a explosão das Savages esteja sempre em aparente controlo, os seus discos são para se ouvir em volume máximo e sem arrependimentos. E seguramente não haverão por aí muitos álbuns capazes de condensar a vida numa simples pergunta sem respostas certas, “Is it human to adore life?”.

Old Jerusalem – A Rose Is A Rose Is A Rose

É um dos discos mais bonitos deste ano e disso não tenho dúvidas. Foi um álbum que fui ouvindo uma e outra vez, que foi ocupando o seu espaço e levantando aquelas questões das quais tentamos sempre fugir, “the passing days suggest that something should somehow move on but is there really time and should something be made of it?”. Trouxe conforto para aqueles dias em que sentimos a pressão de mudar, de construir futuros, quando na maior parte das vezes as verdadeiras mudanças dão-se quando não pensamos nelas. Se por vezes é necessário conseguir descer ao fundo do poço, por outras pode ser ainda mais importante saber flutuar sem resistir à corrente. A Rose Is A Rose Is A Rose traz consigo essas reflexões num punhado de canções de singela e rara beleza.

Crítica ao disco aqui.

Explosions In The Sky – The Wilderness

A espera fez-se lenta e aguçou a expectativa, é que desde 2011 que não tínhamos álbum novo de EITS, isto porque pelo intervalo a banda dedicou-se a bandas sonoras, talvez demasiadas, onde a sua música se diluiu e não convenceu. Este novo The Wilderness provavelmente também não irá ao agrado de muitos dos fãs antigos, é feito de faixas mais curtas, mais abstratas e de contrastes mais abruptos, mas que conservam ainda aquele colosso de transcendente beleza que é a música de EITS. Espero ainda pela catarse ao vivo daqui por poucos meses no Porto, nunca tive vergonha de deixar lágrimas rolar em concertos. Vera Brito

ClaudiaAndrade

Roly Porter – Third Law

“Para qualquer acção, há uma reacção igual oposta”. Third Law é o novo álbum de Roly Porter e vem com um cheirinho de lei de Newton à mistura, sendo sem dúvida essa mesma lei que melhor descreve o que sentimos ao ouvir este fabuloso trabalho de electrónica. Elementos que exercem a mesma força em sentidos opostos, um choque, uma adrenalina que nos faz estar em constante sobressalto.

Clark – The Last Panthers

The Last Panthers é o novo disco de Clark e serve de banda sonora a uma série com o mesmo nome. Para quem está habituado a um Clark com um trabalho de ritmos e texturas variado e com batidas fortes, vai ser totalmente surpreendido por algo completamente diferente, extremamente cinematográfico, sem as típicas batidas dos trabalho anteriores e com um toque de Max Richter que lhe confere uma personalidade que até aqui não conhecíamos.

Tim Hecker – Love Streams

Love Streams mostra-nos um Tim Hecker diferente de Virgins, mais electrónico-progressivo, com um excelente trabalho de vozes corais que nos afectam emocionalmente. Um álbum mais quente, colorido e etéreo de um génio dos tempos modernos. Cláudia Andrade

CarlosVieiraPinto

Sensible Soccers – Villa Soledade

Os autores do melhor disco nacional de 2014, estão de volta com o sempre difícil segundo lançamento. Villa Soledade começa com “Clausura”, tema que nos leva imediatamente até Berlim, devido às suas semelhanças com o tema “Warszawa” que Bowie gravou na cidade alemã. Ambientes e texturas detalhadas que se apresentam durante todo o disco, principalmente em “Villa Soledade” e “Apertura”. Mas o agora trio de futebolistas de Vila do Conde não se fica por este torneio e compete também com equipas africanas e asiáticas. “Bolissol” e “Nunca Mais Me Esquece” são os temas mais quentes e aqueles que levantam poeira quando as redes das balizas se abanam. Em sentido contrário, “AUX” é o tema onde os Sensible Soccers vão mais longe na melancolia. Nunca antes tinham chegado tão fundo. Nunca antes provocaram um sentimento tão amargo. “Shampom” é a malha-mãe. Aquela que se junta às anteriores “Sofrendo Por Você” e “AFG” para formar um trio de músicas que por si só são capazes de explicar o que são os Sensible Soccers. Se Villa Soledade vai marcar mais que 8, o primeiro disco, só o tempo o dirá, mas que os Sensible Soccers passaram no teste do sempre difícil segundo disco, isso já é uma certeza.

Crítica ao disco aqui.

David Bowie – Blackstar

Não haverá, porventura, em 2016, disco mais falado que Blackstar de David Bowie. O paradoxo é que não haverá, certamente, disco mais difícil de falar. Blackstar foi a despedida de um dos músicos mais geniais e mais influentes dos últimos 40 anos. Um nome que atravessa o rock, a eletrónica, a pop e a música experimental. E foi uma despedida planeada. Consciente que o tempo que lhe restava era muito pouco, o “camaleão” decidiu gravar um conjunto de músicas que é dos seus mais arriscados, o que é dizer muito sobre quem andou sempre na vanguarda da música. “Blackstar” é o seu tema mais longo, 10 minutos de uma viagem que prenuncia a sua morte – “Something happened on the day he died” – num tom fúnebre e futurista. Em “Lazarus”, uma das suas melhores canções, confessa “Look up here, I’m in heaven – I’ve got scars that can’t be seen”, uma alusão clara ao cancro em fase terminal que infernizava o inventor de Ziggy Stardust. O cancro contra o qual lutou até ao final, como nos revela o belíssimo, belíssimo final de “Dollar Days” em “I’m trying to / I’m dying to”. O disco termina, a carreira termina, a vida termina com “I Can’t Give Everything Away”, o canto do cisne do eterno Thin White Duke. O contexto determina a arte, mas não é só por isso que Blackstar é um grande disco. É, sem qualquer dúvida, o melhor disco de Bowie desde Scary Monsters (And Super Creeps), de 1980. Carlos Vieira Pinto

RicardoAlmeida

Hemelbestormer – Aether

Depois de um EP com curadoria Consouling Souls onde colaboraram com Vanessa Van Basten, o primeiro álbum dos Hemelbestormer só vem confirmar que estamos perante um colosso. Com credenciais que pegam no sludge mais monolítico e o aliam à dinâmica e ao carácter atmosférico do post-rock, Aether deverá agradar tanto a fãs de nomes como Year of No Light e Ufomammut como a entusiastas do que de melhor se faz na Bélgica (Amenra, Sydrome etc). Recomenda-se a audição do disco na íntegra, de preferência com phones.

Massive Attack – Ritual Spirit

Seis anos passaram desde o último disco destes patriarcas do trip-hop. Ritual Spirit é o primeiro dos três registos que os Massive Attack se propõem a lançar em 2016 e está um mimo (destaque para as faixas com Azekel e Tricky, “Ritual Spirit” e “Take it There” respectivamente). Recordamos que a banda de Bristol é um dos nomes confirmados para o Super Bock Super Rock.

Jozef van Wissem – When Shall This Bright Day Begin

Há dezasseis anos a editar discos, há dezasseis anos a desconstruir o alaúde, o prolífico Jozef van Wissem já passou por Portugal várias vezes, tendo tocado em lugares tão especiais como, por exemplo, a Sé do Porto, por ocasião da segunda edição do Amplifest, e a Igreja de St. George em Lisboa. Dificilmente podemos separar a sua carreira a solo das muitas colaborações que tem assinado ao longo dos anos, nomeadamente aquelas com o realizador norte-americano Jim Jarmusch. When Shall This Bright Day Begin mostra-nos um van Wissem ainda menos convencional, tendo desta vez convidado Zola Jesus a dar voz a duas das suas composições. Ricardo Almeida

Arte-Factos

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